sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Palavras do Mestre Jigoro Kano

A Prática do Judô no Dojo

Treinando para vencer

Com relação à prática do judô em um dojo, que é, evidentemente, um assunto muito vasto, vou me limitar a falar sobre dois pontos. O primeiro relaciona-se à atitude do praticante durante o randori.
Na prática diária do randori, a luta contra outra pessoa não é o verdadeiro propósito da prática do judô. Pelo fato de ser interessante lutar para ver quem vai vencer, isso é feito frequentemente. Parece que todos acham que ser capaz de derrotar outra pessoa é a meta principal do randori. Entretanto, existe uma clara diferença entre se tornar capaz de derrotar uma pessoa no futuro e ser obcecado pela idéia de de derrotar alguém agora, no presente.
Para derrotar alguém agora, o ideal é que a pessoa forte use essa força para sobrepujar a força da outra pessoa. Entretanto, usando esse método, ela naturalmente será derrotada se combater um oponente muito mais forte. Então, mesmo que corra o risco de levar a pior por algum tempo, a prática correta do randori é aprender a evitar habilmente o oponente, adaptar-se à energia dele, fazer com que ele desequilibre ao avançar para trás e aproveitar essa oportunidade para fazer um waza. Se ela fizer esse tipo de treinamento por um tempo, no começo será muitas vezes imobilizada ou terá o braço torcido ou será empurrada pelo oponente. Mas se não fizer com regularidade, nunca aprenderá a derrotar um oponente mais forte.
Esse é apenas um exemplo. Outro exemplo refere-se a um dos meus antigos alunos que se destacava dos outros: um jovem chamado Shiro Saigo. Ele era um dos que mais eram arremessados durante os treinamentos. Até que aprendeu a se esquivar e o que fazer após ser arremessado. A maioria das pessoas ataca o ponente por medo de ser arremessado. Como ele ficava na ofensiva durante as lutas, seu oponente assumia uma postura defensiva e ficava com o ataque mais fraco, enquanto Saigo podia usar os waza à vontade.
Eu criei o termo zenshu wa zenko ni shikazu (algo como: o ataque é a melhor defesa) e sempre sugiro isso as pessoas. Na prática, se você só pensa em vencer desde o início, nunca vai conseguir isso. Para desenvolver a força para um dia vencer, você precisa se contentar em perder por algum tempo. E mesmo que você corra o risco de perder, deve tomar a ofensiva, tentar vários waza e treinar com afinco. Se você praticar com isso em mente, não vai mais lutar com uma postura limitada a uma única direção, nem vai baixar os quadris e se agachar para a frente, em uma postura defensiva, como tenho visto muito ultimamente.

A Prática do Randori

A razão pela qual existem tantos abusos hoje em dia é que as pessoas se esqueceram de que a prática do randori significa lutar com toda a garra. Se a pessoa luta com garra, mas assume uma postura que baixa o quadril, afasta as pernas e projeta a cabeça para a frente, ela fica em posição de desvantagem. Tanto seu rosto quanto seu peito ficam vulneráveis aos atemi do oponente. Também será difícil se mover rapidamente para evitar os ataques. O atemi não é usado diariamente na prática do randori porque é perigoso, mas você deve mesmo assim praticar imaginando que o oponente pode atacar usando atemi a qualquer momento.
O hábito de não levar isso em consideração é a causa dos erros atuais. Assim, você precisa teinar o máximo possível mantendo uma postura natural sem tencionar o corpo, especialmente braços e pernas, e permanecendo bem relaxado para poder se movimentar livremente. Em alguns casos, é aceitável que se assuma uma postura defensiva, mas apenas temporariamente - sempre que possível convém manter uma postura natural.


Trecho retirado do livro Energia Mental e Física - Escritos do Fundador do Judô

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